A toupeira-de-água ibérica (Galemys pyrenaicus , E. Geoffroy Saint-Hilaire, 1811) encontra-se, segundo os últimos estudos de população, numa profunda regressão. A espécie teve a sua presença reduzida em várias bacias, inclusive desapareceu e pode dar-se por extinta em muitas delas e, naquelas onde ainda está presente, existem dados do seu retrocesso populacional tanto em nível de densidade de população, como de ocupação de leitos e habitat.
Na província de Salamanca constata-se o desaparecimento da espécie de muitas gargantas da bacia do Douro e, embora não se saiba com exatidão o estado de outras potenciais, está presente na bacia do Tejo. Na província de Zamora não se valoraram todas as bacias potenciais e os estudos realizados para a confirmação de referências na zona de Sanabria indicam a sua regressão e inclusive o desaparecimento em algumas sub-bacias. Na província de Leão prevê-se maior número de população, embora as referências históricas em muitos casos sejam antiquíssimas, portanto, é preciso saber o estado real das populações na área. Na província de Cáceres, se encontram em vários núcleos dentro do LIC Sierra de Gredos e Valle del Jerte.
O género Galemys é um endemismo da península ibérica catalogado pela IUCN como vulnerável, a mesma categoria com que se regista no Catálogo Espanhol de Espécies Ameaçadas, com exceção do Sistema Central, onde se considera em perigo de extinção, catalogação que apresenta na comunidade autónoma de Extremadura. A espécie desapareceu em muitas zonas da sua distribuição histórica, e apresenta uma tendência regressiva que implica numa rápida resposta da parte das administrações públicas, não só para inverter a tendência populacional como também para diminuir as ameaças que afetam a espécie e o hábitat que ocupa.
É por isso que uma rápida intervenção sobre as causas não naturais que afetam de forma importante a espécie e o hábitat que ocupa evitaria, sem dúvida, o desaparecimento deste género endêmico tão primitivo na península ibérica, evitando a perda de variabilidade genética e de biodiversidade. Portanto, as ações propostas neste projeto procuram complementar o conhecimento existente sobre a espécie para a aplicação de medidas necessárias para a sua conservação que, de outra maneira, suporia, sem via de dúvida, a continuidade da regressão da espécie até ao seu desaparecimento.
O projeto propõe atuações urgentes de conservação nos hábitats em que a espécie é característica; tais atuações, voltadas à melhoria do hábitat da toupeira-de-água, não só terão resultados na melhoria da conservação da espécie como também nas demais espécies da fauna e flora associadas. As atuações nos hábitats ribeirinhos como bosques de amieiros terão efeitos no aumento de macroinvertebrados bentónicos, o que beneficia a presença de espécies de ictiofauna, tendo repercussão na pesca desportiva e noutras atividades, e assim se produz um valor acrescentado complementar e de interesse para a população em geral. As ações para melhorar a conectividade longitudinal e transversal permitirão a conexão de diversas unidades populacionais da toupeira-de-água e outras muitas espécies, além de recuperar o regime hídrico natural dos leitos.
Além disso, as ações de melhoria de tais hábitats, junto com as propostas para a melhoria da qualidade dos recursos hídricos e dos leitos, suporão uma revalorização do recurso hídrico, além de melhoria da sua qualidade e conscientização, da parte da população, quanto à sustentabilidade da água como elemento básico e imprescindível para a vida.
Do mesmo modo, as técnicas utilizadas para a execução das ações servirão como modelo para posteriores atuações em outras áreas com a mesma problemática, não só com respeito à toupeira-de-água, como também com relação a problemáticas similares, de forma que serão extensíveis a outras zonas, não só da região e de Espanha como também da Europa.